quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

AMILTON ANDRÉ: SOB A LENTE, O MEU OLHAR




Fonte: http://amiltonandre.blogspot.com/
           ACIA Divulga - setembro de 2010
           Texto e fotos de: Amilton André

JÔ CORRÊA: VIDA DE BAILARINA



A certeza de ter a dança no sangue foi  o que impulsionou Jocelita Corrêa Santos a sair, ainda na adolescência,  de Alagoinhas rumo a capital, para lutar pela realização de seus sonhos, tornando-se, mais tarde, a experiente bailarina profissional e professora de dança Jô Corrêa, fundadora da Escola de Dança La Dance.
Filha de cabeleireiro e dona de casa, Jô, que possui dois irmãos, continuou seus estudos em Salvador e ao mesmo tempo passou a frequentar academias de dança como a Royal Dancing e EBATECA. Passou no vestibular para dança na Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 1975 e, em 1979, tornou-se profissional desta arte.
Talvez a maior barreira na qual a pessoa que opta pela dança como meio de vida pode esbarrar em seu percurso sejam os problemas financeiros, o que, segundo ela, dificultam bastante a participação de bailarino em um trabalho somente como bailarino. "Geralmente ele tem que ser, ao mesmo tempo, coreógrafo, cenógrafo, figurinista e por aí vai", conta.
Em sua carreira, iniciada ainda na faculdade, Jô Corrêa obteve um rol de realizações.  A primeira delas— que é claro, nunca vai esquecer - é um trabalho de Dança Moderna, feito em 1976, a convite da Prefeitura de Camaçari, mas que foi levado para várias escolas de Salvador.
Ap0s este grande sucesso inicial, Jô apostou na Dança Moderna, apresentando, em 1977, ”Mulheres do Cais", no Teatro Camaçari. No ano seguinte, participa do trabalho "Amaz", do Grupo Cruzada - que ganhou "menção honrosa” no 1º Concurso de Dança Moderna —, no Instituto Cultural Brasil-Alemanha-Salvador.
Entre os anos de 1978 e 1979, 10 participa do trabalho de divulgação da EMAC (Escola de Música e Artes Cênicas) em vários estabelecimentos da própria Universidade.
Em 1980, uma multiprofissional Jô Correa testa suas habilidades no grupo de dança e teatro soteropolitano “Em Cena", quando participa como dançarina, figurinista e cenógrafa do espetáculo "Pituchinha”, que realiza apresentações por todo o estado da Bahia.
Com o mesmo grupo, segue entre os anos de 1981 a 1983, participando, respectivamente, dos espetáculos "Os Gatinhos Pintores", "Chapeuzinho Amarelo" e ”Família Barbapapa" — este último, um trabalho de grande sucesso, que foi contratado pela Fundação Cultural para se apresentar em várias escolas do estado da Bahia.
Já em 1985, volta a cidade natal para apresentar-se como bailarina solista, na abertura da 1*Feira de Arte e Artesanato de Alagoinhas, promovida pela Faculdade de Formação de Professores. Logo depois, executa outro solo de dança para o lançamento de um livro do poeta José Olívio.
Após esses primeiros trabalhos em sua própria terra, em que seus conterrâneos receberam-na de braços abertos, Jô decide voltar de vez para Alagoinhas, já que a comunidade fez questão da continuação destas ações. ”Fiquei muito feliz, nada planejado. Mas, que bom poder colaborar com a cultura da terra onde nasci!", celebra.
Ainda em 1987, aceita o convite — feito por pessoas que conheceram seu trabalho em Salvador, ao montar  espetáculo "Amaz", com o ”Grupo Cruzada" - para ministrar aulas em Alagoinhas. E, depois de um ano, organiza o seu primeiro "Festival de Dança", no Auditório do Colégio Santíssimo Sacramento. Desde então, a adesão as aulas de dança só cresceram, e Jô passou a morar entre Alagoinhas e Salvador.
Essa experiência resultou na Academia La Dance, que, desde sua fundação em 1988, funciona no mesmo local, à Rua 7 de Setembro, numero 71, no Centro de Alagoinhas.
Além das atividades que realiza na Academia, Jô Corrêa também é diretora do Centro de Cultura de Alagoinhas, onde, desde 2007, realiza um trabalho reconhecido pela comunidade alagoinhense e pelos artistas da região.

Fonte: ACIA Divulga - setembro de 2010
Texto: Lana Matos e Midian Bispo

ORQUESTRA OS TURUNAS E O MAESTRO BENÍGNO



Os grandes bailes de micareta fazem parte de uma história musical riquíssima em Alagoinhas. A primeira manifestação neste gênero aconteceu em 1950, com o surgimento da Orquestra Os Turunas, que realizou seu 1º baile em 25 de março do mesmo ano, na Rua 24 de Maio (atualmente, o Hotel Kasa Grande). A primeira grande festa foi na Rádio Clube de Alagoinhas, localizada no prédio de Oscar Correia (hoje, o Magazine Toque Final); depois tocaram na ACRA, sob a presidência de Valter Campos. Em 1968, a primeira apresentação em Salvador, no Flamenguinho em Periperi. A melhor festa, segundo o Maestro Benígno aconteceu no Clube Cajueiro em Feira de Santana no ano de 1972 e o melhor carnaval em Salvador foi em 1974 no Baiano de Tênis, que contou inclusive com a presença do Rei do Futebol, Pelé, além de um público superior a 35 mil pessoas. Na época a Orquestra Os Turunas contava com a seguinte formação: Benígno, Antonio Amando, João Fagundes, Pedro Hugo, Jonas, Tuca, Carlito Oliveira, Leopoldino, José Ferreira e Catichib. 
A Orquestra foi fundada em 25 de Março de 1950 pelo Maestro Benígno, irmãos e amigos (veja foto). Na década de 70 ganhou 04 títulos consecutivos no Carnaval de Salvador, inclusive o título de 
honconcour 
 em 1973, oferecido pela Bahiatursa. Nos anos 60, 70 e 80, grandes bandas de bailes surgiram e animaram a micareta de Alagoinhas nos clubes locais; a Acra, a AABB, o Tênis Clube, o Ferroviário, o América, o Vencedor entre outros clubes localizados no município de Alagoinhas. Entre as primeiras bandas podemos citar: Os Terríveis (de Zé da Tejan), os Cadetes (de Messias), Os Planetas (de Chico), seguidas por: Picolinos (de Vacinho), Manifesto (de Hidelbrando), Milionários (de Valber), Caciques (de Vieirinha) Controle remoto (de Rudolf), Magnífico (de D.Rosa e esposo), Coquetel de Frutas (de Jorge Dó), Verão Tropical (de Bolota), Lá Salvador (de Géo e Rayneldes), Tabajaras (de Birro), Clip (de Zé Oscar) e Valneijòs do saudoso Valnei, um dos precursores do Trio Elétrico na Bahia, engrandecendo Alagoinhas em todo Norte/Nordeste do país. 


Portanto, nada mais justo do que esta homenagem a quem proporcionou bons momentos de lazer, harmonia e paz nas micaretas e nos bailes que antecediam as mesmas em Alagoinhas. Uma festa que saiu dos clubes, para tomar conta das ruas da cidade, mas, deixando uma saudade imensa das ”matinês e soirées’ da Acra, tênis e AABB. Saudade dos blocos de turmas, das batucadas e da Escola de Samba Descendo o Morro, de Geraldão. Das máscaras e das mortalhas, das Filarmônicas Euterpe e Ceciliana (na época anterior aos Turunas, as filarmônicas que animavam a micareta ou micaremes que aconteciam logo após a sexta-feira santa, no sábado de aleluia). 

E hoje diante de toda parafernália elétrica que faz parte da micareta, Alagoinhas ainda pode respirar um pouco da cultura dos antigos carnavais: O Bloco Amigos dos Turunas animados por sua orquestra que sobrevive há 62 anos. E o maestro Benígno com seus 92 anos de vida, dedicados à música e ao ofício de alfaiate; o cidadão que deixou Inhambupe em 1939, para se tornar filho adotivo de Alagoinhas e realizar o sonho dos metais e caixas tocando uma canção única de amor, paz e harmonia. Dos Turunas à Ceciliana e dela o ponto de partida para esta gama infinita de músicos, que hoje existe, ou passou por esta terra.

OS MILIONÁRIOS - A CULTURA DOS BAILES DA VIDA


Logomarca: CIDADE propaganda e Marketing

44 anos depois, um grupo de artistas reuniu-se no dia 14 de janeiro na residência do guitarrista Valber Barros para a produção de um vídeo documentário sobre o conjunto Os Milionários, coordenado pelo jornalista Edson Borges. De 1968 até a década de 80, o conjunto musical Os Milionários encantou Alagoinhas e outras cidades da Bahia, Sergipe e Rio Grande do Norte com suas exibições musicais. Dentre os presentes estavam Valber, (empresário, dono do CCAA), Orlando (empresário do ramo musical em Candeias) -, Jayro (gerente de empresa de concursos em Alagoinhas), Geú (músico local) e Gilberto (aposentado do INSS), fundadores, mais Pedrinho (aposentado do Baneb), Robertinho (funcionário da prefeitura local), Jonas (músico em Aracaju), Valdir (músico em Salvador) e Luis Tumbadora (músico no Pará) que, juntamente com Beroaldo (comerciante local), Everaldo (aposentado da Leste e residente em Entre Rios) e Marivaldo (cujo paradeiro é desconhecido), uniram-se ao grupo original, após afastamento de alguns, além de diversos amigos admiradores do conjunto. No saudoso encontro, foram executadas algumas músicas daquela época para deleite nostálgico dos presentes.
Criado em 1968 por jovens da rua Severino Vieira, o conjunto surgiu como uma brincadeira nas festinhas de aniversários, no Ginásio de Alagoinhas e em outros ambientes frequentados pela juventude de então. Inicialmente, recebeu o nome de Os Anjos do Mal , com ensaios na rua de Inhambupe, na sede do conjunto The Thunders Boys. porque ainda não dispunha de instrumentos, somente o pioneiro Valber possuía uma guitarra, presente de aniversário das suas irmãs, juntamente com um aparelho de som “jet sound”.
Da brincadeira, o conjunto passou à realidade com a compra dos demais instrumentos na Casa Santa Clara de Alexander Mac Gregor Grant. Na ocasião, o conjunto fazia os ensaios na garagem da casa de Valber e teve a sua primeira formação com Valber (guitarra solo), Orlando (baterista) Jayro (crooner), Geú (baixo eletrônico), Gilberto (acordeon), Everaldo (sax). Beroaldo (crooner) e Marivaldo (guitarra). O primeiro contrato do conjunto foi para a festa de aniversário do Clube Náutico, do Thompson Flores, presidido pelo saudoso José Carlos Santiago, nos dias 08 e 09 de novembro de 1968. A partir daí o conjunto ganhou o nome de Os Milionários. sugerido por Beroaldo Soares em razão da perfeição com que Valber fazia o solo da música O Milionário, original italiano que se tornou o prefixo de abertura e encerramento em todas as suas exibições.
O conjunto Os Milionários participou do programa Poder Jovem da Tv Itapoã, como convidado especial, na década 70, acompanhando artistas da Jovem Guarda como Vanuza, Antonio Marcos, Os Corujas, Marcio Greick, Os Vips, Katia Cilene, Valdirene, Eduardo Araújo, Silvinha, Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, dentre outros. . Na época, o baixista Geú foi convidado pelo cantor Antonio Marcos para fazer parte de um grupo musical em São Paulo mas preferiu fi car por aqui. O cantor Marcio Greick exigia nos seus contratos a presença de Os Milionários para acompanhá-lo em Sergipe e na região. Emilinha Borba, rainha do rádio, chegou a ofertar a letra de uma canção ao crooner Beroaldo Soares. O conjunto sempre inovou na sua trajetória musical, exibindo a primeira luz estroboscópica, a primeira luz negra e o primeiro aparelho de som “tremendão” que deslumbraram o público nas suas apresentações musicais. Brilhou em uma época de ouro da música alagoinhense quando pontilharam grupos musicais que faziam a festa da juventude que adorava a Jovem Guarda, liderada nacionalmente por Roberto Carlos, ainda Rei.

FONTE: JORNAL - GAZETA DOS MUNICÍPIOS - Alagoinhas (BA), 29 de fevereiro de 2012

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

MÁRCIA ALMEIDA - OS FAZERES DAS MULHERES DAS TRIBOS DOS TUPINAMBÁS


Em seu trabalho, Márcia Oliveira Almeida (Alagoinhas/ BA), que também assina suas obras com o nome artístico “Moa”, valoriza os fazeres das mulheres das tribos dos tupinambás, considerados primeiros habitantes da cidade de Alagoinhas. A artista revela a beleza das tradições dos tupinambás e o resgate do universo feminino das índias, por intermédio de recriações de extrema sensibilidade nas cerâmicas que produz. Kusiwa em tupi quer dizer “o caminho dos riscos”. No trabalho, ele é representado pelas linhas de algodão. Estas se ligam aos pontos de cerâmica. A partir daí, constrói-se uma estrutura de si mesmo, o self da mulher imaginária tupinambá. Ela fica presa em um círculo, ou seja, a um espaço colonizador que não permite a visibilidade dos seus fazeres.
A cerâmica artesanal deveria ser um dos encantos de Alagoinhas, pela sua diversidade e plasticidade; no entanto, e invisível este fazer. Há cinquenta anos, existiam no município cerca de trinta olarias, oficinas que produziam moringas, potes e louças que abasteciam as comunidades vizinhas. Famílias inteiras se dedicavam a esta rica atividade, a da cerâmica no torno, diferenciando-se das outras regiões por ser moldada a mão no estilo indígena, embora os designs das suas louças sejam no estilo tupinambá.


A artista Márcia Almeida vem desenvolvendo há oito anos com o seu olhar feminino, pesquisas na comunidade sobre o fazer local. A argila foi o primeiro elemento da sua paixão devido a sua alta resistência, beleza e plasticidade, material utilizado para a confecção de uma criativa linha de colares com contas de cerâmica feita à mão.
Após concluir os cursos de Licenciatura de Estudos Sociais na UNEB - Alagoinhas, e o de fotografia na Casa da Fotografia em Salvador, optou pela arte como meio de sentir a vida e, ao participar da I Mostra de Arte Popular no Shopping da Cidade, percebeu que o cognitivo da cultura  tupinambá é ainda ativo na sua gente, e passou a   utilizar as tramas indígenas no seu trabalho,   escolhendo a cerâmica como o elemento de  suporte à sua criação. Bastante atuante, participou   pela primeira vez, em 2001, na Galeria Café da  Casa 8, em Salvador, de uma exposição coletiva.

Nos anos seguintes, participou de mais seis exposições além dos salões de artes em várias cidades da Bahia. Em 2007, expõe novamente no Centro de Cultura de Alagoinhas, em 2008 é homenageada no Salão Regional de Artes Visuais de Alagoinhas, pelo conjunto de obras e pelas pesquisas realizadas. Em 2011 expõe no Salão Regional de Artes Visuais de Valença.
 Hoje, a cidade conta com uma artista que tem distribuído pelo mundo a sua terra vermelha com beleza e criatividade, e revela uma esperança cultural local: a de ver o resgate da cerâmica artesanal sendo produzidas em forma de objetos utilitários, panelas, moringas, pratos, travessas e etc. para enriquecer a identidade cultural e gerar oportunidade de inclusão social.



Fonte: Revista ACIA Divulga - setembro de 2010
Texto: Midian Bispo

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

BAC - O TEATRO DE ALAGOINHAS, DA BAHIA E DO BRASIL.



Glauber Jorge, filho de Alagoinhas, graduado em Pedagogia, pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). Atualmente  pós-graduado em Gestão Empresarial, com Ênfase em Coordenação Pedagógica, pela Faculdade Vasco da Gama. A escolha da área pedagógica surgiu da necessidade de fazer uma mobilização artística na cidade de Alagoinhas e região, através de projetos culturais que envolvessem crianças e adolescentes.

Envolveu-se com teatro no ano de 2000, no Núcleo de Arte e Teatro de Alagoinhas (NATA), hoje conhecido como CIA NATA. No princípio, fez o trabalho de cenografia e auxiliou na iluminação. Decorridos três anos, formou, juntamente com os amigos Luiz Antonio Júnior e Gil Araujo, o Bando de Artistas Cênicos (BAC). No início, a direção do grupo era composta por esses jovens ousados e amantes da arte que, até hoje, se dedicam ao estudo das técnicas e teorias que lhes competem. Na ânsia de manter viva a paixão pelo teatro, pensaram na formação de um grupo que visasse trabalhar as artes cênicas de modo geral. Para isso usaram recursos oriundos da dança, do teatro, da música e das artes plásticas. Atualmente exerce sozinho a direção geral, mas conta sempre com o apoio de todos os componentes.
Durante dois anos e meio participou de espetáculos de dança na La Dance Academia, onde pode aperfeiçoar técnica e equilíbrio, o que foi muito útil em suas pecas. O BAC ( Bando de Artes Cênicas) também realiza trabalhos paralelos aos da CIA Corpus e Dança — onde também fez participações em trabalhos apresentados no Centro de Cultura de Alagoinhas.

Além de ampla atuação como diretor teatral, trabalhou na produção do Projeto Vila D’água, no Teatro Vila Velha, em Salvador, onde desenvolveu atividades artísticas em renomados institutos educacionais, como os colégios São Francisco, Ênfase e o Programa de Criança Petrobras.
Durante os primeiros nove meses, o grupo gerou o espetáculo “Nas Entranhas do Amor”, que chegou aos palcos em julho de 2004. O segundo trabalho, “Vida Privada”, foi uma comédia romântica e descontraída da vida a dois, cujas primeiras palmas deram-se nos dias de julho de2005. Um espetáculo inovador para o currículo do grupo
Dando prosseguimento aos trabalhos artísticos, o BAC montou o espetáculo “Corpus” — Uma viagem metalinguística do nada ao movimento palavreado, em que o maior desafio foi a escassez de tempo, já que estreou em setembro de 2005 e em novembro do mesmo ano, já se apresentava na cidade de Estância, n estad0 de Sergipe.
No ano seguinte, foi montado o espetáculo “Amigos da Alma”, que trouxe a magia para o palco através dos signos. Na sequência, o grupo se apresentou em julho, em Alagoinhas e, em setembro, novamente em Estância. 
“Cabaret da Rosa Rubra”  foi uma das apresentações mais ousadas, devido ao maior aprimoramento da capacidade técnica. Além disso, o espetáculo focava um assunto sócio-político importante: a exploração de meninas menores de idade. Onde, com promessas de uma vida melhor, as adolescentes eram enviadas para outras cidades e, ao chegar a seu destino, eram obrigadas a se prostituir. O drama foi mostrado com todos os ingredientes a que estas tragédias têm direito: romance, música, dança e sensualidade. A montagem ganhou os palcos entre os meses de julho e setembro de 2007. 

Em 2010, nos dias 10, 11, 12, 17, 18 e 19 de setembro,  de volta ao palco do Centro de Cultura de Alagoinhas foi apresentada uma  nova produção: “NÓS 2”.  Um espetáculo que remontou a época em que as pessoas ainda mandavam cartas de amor. Nesta obra a violência doméstica foi abordada de uma forma crítica e reflexiva.

Apesar de tudo o que já foi feito a frente do Bando de Artes Cênicas, segundo Glauber Jorge o grupo ainda sente necessidade de algo mais.  A vontade de aprender, conhecer e mostrar a população trabalhos de qualidade continua imperiosa. Foi por isso que o BAC criou o  Festival de Arte e Teatro Para Todos, que anualmente, sempre em março, acontece no Centro de Cultura de Alagoinhas. O evento abarca grandes espetáculos locais e regionais, de Salvador e do estado de Sergipe. Para tal, sempre contou com parceiros e apoiadores importantes, como a Quinck Impressoras, Colégio Ênfase, o site Amigos Elyte, a Secel e a Funceb. O grupo espera contar com outras parcerias, que se tornem fixas, de forma que viabilizem os sonhos de muitos jovens, pois a magia do teatro e das artes, de maneira geral, é muito importante na vida de todo ser humano.
Por todos esses motivos o BAC organiza, também todos os anos, no mês de agosto ou setembro, o evento cultural chamado “Tribal”, que tem como propósito arrecadar fundos pra manter vivo o sonho do grupo.
A arte em Alagoinhas pede atenção de toda a sociedade, de forma que se possa oferecer uma nova alternativa de mercado de trabalho aos jovens que se identifiquem com o meio artístico e não queiram levar suas vidas de forma insatisfatória, através de atividades que pouco têm a ver com seus anseios e expectativas de vida.

Para saber mais sobre o grupo BAC, entre em contato, conheça e participe de sua trajetória
blog: www.teatrobac.blogspot.com
e-maiI: teatrobac@gmail.com
twitter: twittencom/teatrobac
youtube: Bando de Artistas Cênicos


Fonte: Revista ACIA Divulga - setembro de 2010
Texto: Glauber Jorge

TOTINHA: UMA HISTÓRIA DE VIDA ATRAVÉS DAS LENTES.




O sol escaldava ao meio dia enquanto a menina esperava. Relegadas a segundo plano, jaziam bonecas e demais brinquedos.  Ao contrario das demais colegas de sua idade, interessava-a mais o daguerreótipo — antiga máquina de tirar fotos, mais conhecida como lambe-lambe - as soluções de nitrato de prata, as tintas e os pincéis usados para retoques em fotos. Também não era uma aluna aplicada, mesmo tendo reconhecida inteligência. Era o ano de 1956 e, para os seus tenros 12 anos de idade, o tempo parecia passar mais devagar enquanto esperava seu pai, funcionário da Estação Férrea São Francisco de Alagoinhas. Ele havia prometido ensiná-la a arte da fotografia e aquele era o dia marcado para a primeira experiência. Assim como os novos brinquedos e demais folguedos infantis excitavam outras crianças de sua idade, Antonia Miranda Conceição, mais conhecida como Totinha, não via a hora de começar a escrever com a luz.

Depois da primeira foto, Totinha não parou mais. Passou a ser a assistente de seu pai nos trabalhos fotográficos, aprendeu tudo que podia com ele e acrescentou novas técnicas ao saber herdado. Ela não era apenas uma retratista, se aperfeiçoou de tal modo na fotografia que começou a se destacar também na parte técnica: fazia as revelações dos filmes com uma qualidade impressionante. Realizava trabalhos de arte em fotografia com experimentações e montagens, chegando ao ponto de ser a fotógrafa mais requisitada da cidade.

Era uma mulher a frente de seu tempo. Ao contrario das demais moças, educadas para casar e ter filhos, Totinha Ievava a vida independente: saiu da casa dos pais, passando a morar só. Habitou em vários endereços, prediletamente no centro da cidade. Nunca casou e não teve filhos Também  era  uma  visionária idealizou  e pôs em prática um  projeto de registro fotográfico, através de registro dos casarões e prédios antigos da cidade de Alagoinhas. Diante da impossibilidade de custear as somas consideráveis para compra de material  fotográfico, interrompeu  o importante trabalho de resgate histórico.      
Sempre buscando  algo além do que o dedicava tempo e recursos em seus projetos.  Realizou criativos registros fotográficos da Igreja Inacabada de Alagoinhas Velha e da Estação Férrea  em forma de cartões postais, Iegou as novas gerações belas imagens do cotidiano da Central de Abastecimento. Também costumava sair pela cidade, registrando personagens pitorescos.

Com o advento da era digital e  consequente processo de extinção da fotografia analógica, Totinha se viu obrigada a Ievar seus negativos para serem revelados na cidade de Salvador, depois que o último laboratório foi fechado em Alagoinhas. Quando faleceu, em março de 2008, aos 64 anos, Totinha deixou um rico acervo que conta um pouco a história da Terra da Laranja — como também é conhecida Alagoinhas. Seus trabalhos podem ser vistos no acervo da Figam ( Fundação Iraci Gama de Cultura ) onde existe uma exposição permanente da saudosa e brilhante Alagoinhense.
Fonte: Revista Acia Divulga, setembro de 2010
Texto: Alberto Marlon e Midian Bispo