O sol escaldava ao meio dia
enquanto a menina esperava. Relegadas a segundo plano, jaziam bonecas e demais
brinquedos. Ao contrario das demais
colegas de sua idade, interessava-a mais o daguerreótipo — antiga máquina de
tirar fotos, mais conhecida como lambe-lambe - as soluções de nitrato de prata,
as tintas e os pincéis usados para retoques em fotos. Também não era uma aluna
aplicada, mesmo tendo reconhecida inteligência. Era o ano de 1956 e, para os
seus tenros 12 anos de idade, o tempo parecia passar mais devagar enquanto
esperava seu pai, funcionário da Estação Férrea São Francisco de Alagoinhas.
Ele havia prometido ensiná-la a arte da fotografia e aquele era o dia marcado
para a primeira experiência. Assim como os novos brinquedos e demais folguedos infantis
excitavam outras crianças de sua idade, Antonia Miranda Conceição, mais
conhecida como Totinha, não via a hora de começar a escrever com a luz.
Depois da primeira foto, Totinha
não parou mais. Passou a ser a assistente de seu pai nos trabalhos fotográficos,
aprendeu tudo que podia com ele e acrescentou novas técnicas ao saber herdado.
Ela não era apenas uma retratista, se aperfeiçoou de tal modo na fotografia que
começou a se destacar também na parte técnica: fazia as revelações dos filmes
com uma qualidade impressionante. Realizava trabalhos de arte em fotografia com
experimentações e montagens, chegando ao ponto de ser a fotógrafa mais requisitada
da cidade.
Era uma mulher a frente de seu
tempo. Ao contrario das demais moças, educadas para casar e ter filhos, Totinha
Ievava a vida independente: saiu da casa dos pais, passando a morar só. Habitou
em vários endereços, prediletamente no centro da cidade. Nunca casou e não teve
filhos Também era uma visionária
idealizou e pôs em prática um projeto de registro fotográfico, através de registro dos
casarões e prédios antigos da cidade de Alagoinhas. Diante da impossibilidade
de custear as somas consideráveis para compra de material fotográfico, interrompeu o importante trabalho de resgate histórico.
Sempre buscando algo além do que o dedicava tempo e recursos em seus projetos. Realizou criativos registros fotográficos da
Igreja Inacabada de Alagoinhas Velha e da Estação Férrea em forma de cartões postais, Iegou as novas
gerações belas imagens do cotidiano da Central de Abastecimento. Também
costumava sair pela cidade, registrando personagens pitorescos.
Com o advento da era digital
e consequente processo de extinção da
fotografia analógica, Totinha se viu obrigada a Ievar seus negativos para serem
revelados na cidade de Salvador, depois que o último laboratório foi fechado em
Alagoinhas. Quando faleceu, em março de 2008, aos 64 anos, Totinha deixou um
rico acervo que conta um pouco a história da Terra da Laranja — como também é
conhecida Alagoinhas. Seus trabalhos podem ser vistos no acervo da Figam (
Fundação Iraci Gama de Cultura ) onde existe uma exposição permanente da
saudosa e brilhante Alagoinhense.
Fonte: Revista Acia Divulga, setembro de 2010
Texto: Alberto Marlon e Midian Bispo
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