quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

TOTINHA: UMA HISTÓRIA DE VIDA ATRAVÉS DAS LENTES.




O sol escaldava ao meio dia enquanto a menina esperava. Relegadas a segundo plano, jaziam bonecas e demais brinquedos.  Ao contrario das demais colegas de sua idade, interessava-a mais o daguerreótipo — antiga máquina de tirar fotos, mais conhecida como lambe-lambe - as soluções de nitrato de prata, as tintas e os pincéis usados para retoques em fotos. Também não era uma aluna aplicada, mesmo tendo reconhecida inteligência. Era o ano de 1956 e, para os seus tenros 12 anos de idade, o tempo parecia passar mais devagar enquanto esperava seu pai, funcionário da Estação Férrea São Francisco de Alagoinhas. Ele havia prometido ensiná-la a arte da fotografia e aquele era o dia marcado para a primeira experiência. Assim como os novos brinquedos e demais folguedos infantis excitavam outras crianças de sua idade, Antonia Miranda Conceição, mais conhecida como Totinha, não via a hora de começar a escrever com a luz.

Depois da primeira foto, Totinha não parou mais. Passou a ser a assistente de seu pai nos trabalhos fotográficos, aprendeu tudo que podia com ele e acrescentou novas técnicas ao saber herdado. Ela não era apenas uma retratista, se aperfeiçoou de tal modo na fotografia que começou a se destacar também na parte técnica: fazia as revelações dos filmes com uma qualidade impressionante. Realizava trabalhos de arte em fotografia com experimentações e montagens, chegando ao ponto de ser a fotógrafa mais requisitada da cidade.

Era uma mulher a frente de seu tempo. Ao contrario das demais moças, educadas para casar e ter filhos, Totinha Ievava a vida independente: saiu da casa dos pais, passando a morar só. Habitou em vários endereços, prediletamente no centro da cidade. Nunca casou e não teve filhos Também  era  uma  visionária idealizou  e pôs em prática um  projeto de registro fotográfico, através de registro dos casarões e prédios antigos da cidade de Alagoinhas. Diante da impossibilidade de custear as somas consideráveis para compra de material  fotográfico, interrompeu  o importante trabalho de resgate histórico.      
Sempre buscando  algo além do que o dedicava tempo e recursos em seus projetos.  Realizou criativos registros fotográficos da Igreja Inacabada de Alagoinhas Velha e da Estação Férrea  em forma de cartões postais, Iegou as novas gerações belas imagens do cotidiano da Central de Abastecimento. Também costumava sair pela cidade, registrando personagens pitorescos.

Com o advento da era digital e  consequente processo de extinção da fotografia analógica, Totinha se viu obrigada a Ievar seus negativos para serem revelados na cidade de Salvador, depois que o último laboratório foi fechado em Alagoinhas. Quando faleceu, em março de 2008, aos 64 anos, Totinha deixou um rico acervo que conta um pouco a história da Terra da Laranja — como também é conhecida Alagoinhas. Seus trabalhos podem ser vistos no acervo da Figam ( Fundação Iraci Gama de Cultura ) onde existe uma exposição permanente da saudosa e brilhante Alagoinhense.
Fonte: Revista Acia Divulga, setembro de 2010
Texto: Alberto Marlon e Midian Bispo

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