Artista plástico nascido na cidade de Alagoinhas, Daniel
Barbosa cresceu influenciado por tudo que o cercou, tanto de aspectos
pitorescos baianos de sua cidade, quanto o que captava pelas mídias impressas e
eletrônicas. Desenhista desde criança, seu despertar começou peIo encanto
diante do mundo maravilhoso das histórias em quadrinhos e dos desenhos
animados, passando pela já exigente audição da boa música. Seu olhar curioso
ante as criações do mundo o levou para os primeiros contatos com a pintura, a
qual se rendeu tomado por uma paixão incondicional e avassaladora. A partir
desse encontro, onde ele vislumbrou o sentimento do artista materializado numa
criação, houve a descoberta de que daquele momento em diante suas mãos nunca
mais seriam as mesmas. Sempre marcado pela sua intensa brasilidade, o adolescente
D.B. se misturava as suas obras em cores vivas e alegres. Logo se tornara
destaque entre professores e especialistas em Arte, participando de salões de
artes, exposições coletivas e individuais, e cursos correlacionados. Suas obras
são profundamente marcadas pela infância em Alagoinhas, palco das primeiras
impressões e concepções estéticas de seu olhar poético.
Nesta cidade, surge seu mentor e parceiro de momentos únicos
da materialização da vontade de criar e mudar, Eduardo Boaventura, que se
tornaria seu grande amigo e incentivador. A forte influência da cor amarela nas
obras de D.B. é fruto desta áurea amizade. A Escola de Belas Artes da UFBA,
além de estar ampliando e desenvolvendo seus conhecimentos em outras áreas de criação
através da Computação Gráfica, numa evolução aos novos tempos, mesclando suas
fortes influências do notório passado com tudo que o mundo cibernético pode
oferecer em novas manifestações da Arte. A sua obra vai além dos sentidos. Sua
visão abstrata de vida e forma a interpretações que não aparecem diante de
nossos olhos. Os grandes contrastes de cores reforçam essas formas e delimitam
o que apenas nossa mente ousa arquitetar. Na busca por novos conceitos
estéticos, o artista está sempre pesquisando sobre a cultura brasileira. Embora
bombardeado por culturas externas (sendo um filho do início da globalização),
tenta mostrar o que há de mais marcante na nossa cultura, nas nossas pinturas
rupestres, no nosso artesanato e no próprio povo, que é uma presença assídua no
trabalho de Daniel Barbosa. Já tendo morado no centro da cidade de Salvador,
entrelaçado por toda agitação e construções arquitetônicas ainda com elementos
antigos, sente o nascer de uma nova vontade de criar, motivada por uma inspiração
que sempre interage com o ser humano, objetos, prédios, produtos a venda nas ruas, carros, e os personagens
desconhecidos de seu dia-a-dia, que protagonizam suas telas. O espaço da tela
se torna um palco, onde atuam seres diversos, encenando um cotidiano colorido e
distorcido - uma parábola da realidade frenética de nossos dias. Recentemente,
Daniel Barbosa está produzindo uma série de flores pintadas com tintas mutantes
em água, influenciadas pela aquarela. Flores personificadas como uma recriação
da realidade. Flores de sonhos, bálsamos para os olhos em tons suaves de cores
quentes como o Laca Gerânio, o Magenta, o Alizarin Crimson e o Amarelo de Cádmio
Escuro.
Quaisquer que sejam suas novas invenções, que sempre surpreendem,
ainda diante do inesperado e da marca inusitada em suas obras, sabemos que
podemos esperar sempre a psicodélica e o encanto de quem reinventa o mundo e
seus pensamentos.
Por: Isis Serra
Quando começo a pintar um quadro, a minha intenção é sempre
criar um mundo de sonhos, um mundo fantástico onde meus personagens possam
habitar. O observador tem o convite para entrar na obra e poder vislumbrar essa
nova realidade. A necessidade é sempre de "Tornar visível o que vivemos
nessa época caótica, fragmentada, violenta, onde a mídia sensacionalista nos
bombardeia 24 horas com imagens multicoloridas, chocantes, desconcertantes, carregadas
de significados psicológicos. O que pretendo quando pinto um quadro é gerar
para o observador um mundo onde tudo é permitido e a morte não existe - uma
parábola de realidade em que gostaríamos de viver.
Um mundo feito de cores e formas, elementos esses, que são
os próprios personagens que povoam esse universo: sóis, flores, árvores, pessoas, animais, naves
espaciais, planetas, seres híbridos, estrelas, luas, cometas, tudo pode ser o
que o leitor quiser (entenda-se leitor, porque pinto como quem escreve, contando
uma história, uma história fragmentada como as de Joyce). Sou um
escritor/pintor seguindo a escola de escritores fantásticos como Borges,
Cortazar, Umberto Eco. As portas de minhas obras sempre estão abertas. O
leitor/observador tem passe livre para ver/ler o que quiser. Tudo é real dentro
do Mundo dos Sonhos. Os personagens são aqueles que eu vi durante toda minha vida:
os garotos das ruas de Alagoinhas, os loucos, os pedintes, os trens da Leste,
as meninas voltando do colégio, os paralepípedos, Os garis, as igrejas, os colégios,
os cartazes, as revistas em quadrinhos, os livros usados, a TV, os personagens
de outros quadros que fazem uma viagem e vem brincar nos meus – o super-homem
de Mestre Floriano, as figuras híbridas de Eduardo Boaventura, as doces personagens
de Luiz Ramos, o figura soturna pintada com poucas pinceladas de um quadro de
Antonio Lins.
As cores vêm do inconsciente. A escrita é automática, como
os surrealistas. O contraste entre as cores complementares cria a harmonia
caótica, equilibrista no fio da navalha. Contraste é amor, yin & yang, preto
& branco, homem & mulher. A Obra sempre esta aberta, basta você passar as
páginas. “Boa viagem”.
Daniel Barbosa
Fonte: ACIA Divulga setembro de 2010
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